Translate

Arquivo do blog

Total de visualizações de página

sábado, 6 de outubro de 2018

CARAÇA - Diário de viagem




Antes de descrever sobre a minha viagem, ė importante avisar que, ao visitar o Caraça, o turista não deve se comportar como se estivesse indo a uma festa. O ambiente não é um lugar para quem procura diversão e sim para aqueles que desejam fazer um retiro espiritual, apreciar a natureza ou para os que querem conhecer a sua intrigante história. O local é um santuário sagrado e uma área de proteção ambiental, então há regras que devem ser seguidas durante a permanência. Preste bem a atenção nelas ao fazerem a sua reserva. 

Regras do santuário: http://www.santuariodocaraca.com.br/normas-de-visitacao/

No dia 06 de Outubro de 2018, depois de muitos anos decorridos, retornei ao Caraça. Desta vez fui com o meu namorado. A nossa viagem até o parque foi tranquila. Não tivemos problemas com os temporais que vem caindo nos últimos dias. Na ida o tempo permaneceu nublado, mas nada de chuva. Graças a Deus, pois seria perigoso trafegar na estrada molhada e cheia de curvas. Todavia, nos trechos mais altos, deparamos com uma neblina que deixou o ar impregnado de gotículas d’água. A visibilidade era pouca e os riscos aumentavam com o tráfico dos pesados caminhos das mineradoras. Eles retardaram um pouco a nossa viagem, pois meu namorado ficou com medo de fazer uma ultrapassagem. Esse temor é bem compreensivo já que a pista era pequena, mal cabia um carro paralelo a outro, e em alguns trechos não havia acostamento.

Apesar desses pontos negativos a pista estava em bom estado de conservação e, até mesmo dentro do parque, havia asfaltamento satisfatório.

Depois de três horas na estrada, finalmente chegamos à portaria. Essa continha duas entrada. A primeira era um portão com grade e muro de pedra. Ao lado encontra-se o marco da estrada Real. 




A segunda tinha a imagem de Nossa Senhora das Graças. Uma santa que os antigos gerentes do colégio eram muito devotos. Exatamente na época em que a instituição de ensino estava sobre direção de padres Franceses.

Nessa encontrava os porteiros do parque. Achei ótima a recepção. Eles entregaram os mapas e panfletos. Depois nos instruiu a encontrar a recepção e indicaram onde era o estacionamento.
 


Seguimos pela estrada dentro do parque. Ainda não tínhamos chegado ao Caraça, quando avistamos o Santuário incrustado ao pé da montanha. Essa visão esplêndida duraria somente alguns segundo. Então o melhor foi parar no mirante. Meu namorado manobrou o carro e estacionou numa área sem vegetação. Ficamos algum tempo apreciamos o vista. 





Apenas um pedaço da paisagem era visível. Infelizmente as nuvens camuflavam grande parte da Serra, que servia como o plano de fundo à construção. Por isso não conseguimos apreciar a paisagem em sua plena beleza. Mas ė isso, o Caraça tem esta característica. A imagem está em constante metamorfose. Ora pode-se ver todo o desenho da serra, ora a neblina esconde grande parte fazendo com que os nossos olhos se concentre somente na beleza do santuário.



Meu namorado acabou chegando a seguinte conclusão ao deparar com esta beleza:

- Por que não conheci este lugar antes?

O caraça provoca este tipo de sensação. Sua beleza natural, misturada com a sua história intrigante, faz com que qualquer um se apaixone. É tanta admiração que tenho a coragem de afirmar que, o Santuário Caraça deveria ser uma espécie de Meca brasileira, pois todos os cidadãos deste país não deveriam passar por esta vida, sem conhecer as suas belezas.

Os antigos e novos alunos.

 
Passamos pelo estacionamento dos visitantes. Onde havia veículos de excursões estacionados. Alguns desse eram de escolas e outros de familiares. Fomos à recepção fazer o check-in e de lá, paramos o carro no estacionamento de hospedes. Enquanto tirávamos nossas malas do carro. Eu vi um grupo de estudantes tirando fotos sentados no muro do jardim. Isto me trouxe uma sensação de nostalgia, porque a primeira vez que visitei o parque foi justamente numa excursão escolar em 2005. Na época fazia o curso de turismo do Cefet.

A excursão poderia ter sido um sucesso, se o nosso ônibus não tivesse quebrado no Caminho, após uma breve passagem em Catas Alta. A partir daí tivemos que ficar horas na estrada, esperando a empresa responsável providenciar outro transporte. Alguns alunos tentaram pedir carona, porém foram proibidos pelos professores. Atitude certa, já que eles eram os responsáveis. O tempo ali poderia ter passado tedioso se não fosse vigor da juventude que quebrava a monotonia com piadas.

Apesar deste infortúnio, ir de ônibus, por uma estrada asfaltada e sentada em um confortável banco, ouvindo música pelo celular, ė um luxo comparado aos estudantes do passado. Segundo o filme Porta do céu. Antigamente, para se chegar ao colégio, os alunos tinham que atravessavam a serra, por meio de um estreita via, cercado pelo mato. O transporte usado era o lombo de cavalos, o que não é nada confortável e nem seguro. Tinham que estar sempre atentos aos riscos. E se acontecesse um imprevisto no caminho, não tinham celulares para pedir socorro ou avisar que vai chegar tarde, como aconteceu comigo e meus colegas.

Quando finalmente os alunos chegavam ao Caraça, ali permaneciam como internos até terminarem o curso. Esse era um lugar isolado e muito rígido. Segundo Zico os garotos viviam uma rotina de constantes estudos que mesclavam com a vida religiosa, já que a instituição também era um seminário. A rotina começava cedo. Às 5:00 da madrugada os alunos deveriam já estar acordado. Eles tinham que seguir um programa de estudos que duravam praticamente o dia inteiro. As atividades intercalavam com orações, aulas, refeições, estudos, recreios. Até mesmo as refeições eram sempre seguidas por atividade de leitura e nos horários de descanso, os garotos não eram poupados de serem corrigidos pelos professores. Para muitos estudantes, que hoje visitam o parque, essa seria uma rotina bem pesada.

Além de ter os horários regrados, os alunos antigos vestiam com formalidades. Logo que entravam tinham que vestir uma batina preta. Esse era o traje usado por todos e que, segundo as cartas Neto, a “batina nova” era usada em cerimônias religiosas e a “batina velha” nas atividades do dia a dia e em momentos de lazer como em corrida.

Já os novos alunos vestem- se com informalidade. O que é compreensível, visto que o ambiente do parque ė cheio de trilhas e solo irregular. No máximo usam a camisa do colégio. Roupa esportiva para longa caminhada e um bom tênis.

Enfim o Caraça pode ter perdido a sua função de colégio, mas não perdeu a sua vocação educacional. Ainda hoje contribui para a formação dos jovens estudantes; seja pelo seu rico acervo histórico tão integrado ao passado brasileiro; seja pela formação geográfica, fauna e flora rara.

As trilhas


Partindo do portão do jardim. 



Descemos a estrada de pedra. A mesma passagem que até hoje tem a curiosa pedra que o imperador Dom Pedro II escorregou. Sim uma pedra marcação P II, ano 1881, indica onde ele caiu. É um curioso atrativo deste lugar.





Cruzamos com a Casa das Sampaias. Simplesmente essa era a residência das mulheres que moravam no Caraça. 



A construção foi edificada num declive bem acentuado, por isso ela se eleva a metros do chão. Suas bases de pedra estão praticamente escoradas num barranco. 










Segundo dados disponíveis no Museu. A casa foi edificada por volta de 1830 é posteriormente reformada ganhando novos cômodos.

As Sampaias, que dá nome a casa, eram as mulheres simples responsáveis pelo serviços domésticos como cozinhar, costurar, lavar, passar...



Fotos das ultimas Sampaias
Em decorrência ao incêndio de 1968, a casa foi abandonada e as funcionárias passaram a morar no sobradinho Afonso Pena.

Acredita-se que as primeiras Sampaias vieram da família Sampaio. António Sampaio e sua esposa Joaquina Silveira dos Prazeres residiram no Caraça e ajudavam na administração. No século XIX, consta que Antônio foi o encarregado de pagar os construtores da estrada por onde passaria o Imperador Dom Pedro I, no ano de 1831.

Os filhos do casal foram batizados no Santuário do Caraça: Maria (1829), Maria do Carmo (1833), Joaquina (1836), José (1837), Gabriela (1840), Thereza (1842) e Emerenciana (1845).

Já João, que possivelmente nasceu em 1843, foi matriculado em 1857. No seu registro consta as seguintes observações: “Filho de Joaquina dos Prazeres, viúva de Antônio Sampaio e sobrinho das antigas Sampaias"

Continuando o relato da nossa caminhada. Após atravessar a casa, deparamos com uma bifurcação. Um caminho levava a estrada, o outro a trilha. Escolhemos o segundo. Andamos por uma passagem de terra por um bom tempo. Nosso objetivo era chegar a Cascatona.

Caminhamos por um bom tempo distanciando cada vez mais do santuário. Por fim encontramos um lugar onde havia uma divisão do caminho. Se optarmos em continuar reto, chegaríamos ao nosso destino. Se escolhemos subir a trilha, levaria ao Cruzeiro. Seguindo a que ia para o alto.

Caminhamos por uma trilha íngreme. Ora havia uma vegetação de ambos os lados, ora apenas a campina. Andamos e andamos sempre subindo. Parecia interminável a ladeira. Chegamos a pensar que tínhamos confundido a direção e assim errado o caminho, mas encontramos alguns troncos pintados de amarelo. Isso significava que estávamos no caminho certo.

No geral a subida foi tranquila em alguns trechos, onde apenas era um caminho de terra, porém há pedaço em que encontramos barreiras de pedra. Algumas rochas eram bem grandes. Assim tivemos que subir com cuidado. Sempre prestando atenção nas fissuras e em pedras que esteja solta.

Em fim achamos uma placa e, após caminhamos mais um pouco, encontramos um grande bloco de pedra. Um paredão construído pela força da natureza. Nas paredes desse foi erguida uma escada de metal. Eu fui a primeira a subir. Quando cheguei ao topo senti certa vertigem ao olhar o redor. 



Realmente não tinha noção de tão alto estávamos. Um verdadeiro desfiladeiro, coberto pelo verde das plantas, encontrava-se em nossa frente. A única proteção era a estrutura de madeira do mirante, cujas colunas se apoiavam de alguma maneira ao precipício. 


Com certeza essa era uma imagem que provocava aflição, mas ao mesmo tempo deslumbramento. Após acostumar com a altura pude então aproveitar a vista. Imediatamente quis tirar o maior número de foto possível, porque era impressionante a vista panorâmica na nossa frente. 



 

Já tinha visto varias imagens que foram feitas neste mirante. No entanto, ver ao vivo é ainda mais impressionante. Os prédios que formam o complexo religioso e histórico estavam diante dos nossos olhos. Dava para contemplar essas edificações que foi construída no decorrer dos séculos XVII, XVII e XIX. É possível enxergar as duas alas laterais, com a igreja no centro. As formas geométricas do jardim. Parte do restaurante e das ruínas do antigo Colégio e da Escola Apostólica ou Seminário. O calvário e mais embaixo encontra-se a casa das Sampaias 






Ė interessa saber que antes ser uma escola, o local era considerado um hospício. Contudo não no sentido que conhecemos hoje. Hospício tem origem no latim hospites e significa os hóspedes, ou seja, hospedaria. Sendo assim era um local destinado à peregrinação e assistência aos necessitados. 





A descida até que foi rápida. Tínhamos desistido de ir até a Cascatona para explorar lugares mais próximos.

Quando retornamos à bifurcação próxima a Casa das Sampaias, pegamos a outra via. A que ia para a estrada asfaltada. Essa era o caminho de chegada ao Caraça.

Fomos em direção a Casa da Ponte. A casa é uma das residências usada como hospedagem pela pousada do Santuário. 



Prosseguimos com a nossa caminhada até que encontramos uma estrada transversal. Nela havia uma porteira que impedia veículos de atravessa-la. No entanto essa estava liberada, para os pedestres, pelas laterais. Já que essa estava fechada. Andamos desta vez até o tanque grande. O caminho deste era mais uma antiga estrada do que propriamente uma trilha. 




Passamos por um ponto onde a terra estava úmida e para a nossa surpresa encontramos pegadas. Eu achava que essas eram de um cachorro. No entanto eram claramente de um animal grande e com garras. Aí pensamos, a priori que se tratava de uma onça, mas poderia também ser do famoso lobo Guará. Ficamos discutindo está duas possibilidades, enquanto seguimos caminho.



Achamos um aviso interessante. Esse apontava que estávamos atravessando o território dos macacos Guigó ou Sauá. A placa aconselhava a ficamos em silêncio, pois o barulho poderia espanta-los e perderíamos a oportunidade de vê-los. Caminhamos prestando a atenção nos galhos das árvores em nossa volta. No entanto não encontramos nenhum macaco. Depois, já no santuário, descobrimos que esses animais desapareceram sem explicação. Biólogos entraram na mata para descobrir se encontravam algum corpo, assim poderiam ver se era por alguma doença, mas nada encontraram. O mistério continua. Para onde foram estes bichos? Por que eles abandonaram o parque?

Chegamos num local onde o caminho se dividiu em dois. Seguimos pela direita em direção ao Tanque Grande.

Enfim chegamos ao ponto que queríamos




O Tanque Grande é na verdade uma barragem, que entrou em funcionamento em 20 de Novembro de 1893. Na sua inauguração estava presente o governador de Minas Gerais e o ex aluno Afonso Augusto Pena, o futuro presidente da República. Foi o padre Luiz Gonzaga Boavista quem mandou construiu está estrutura. A finalidade de tal mecanismo era mover os dínamos e assim gerar energia para o Engenho da Serra. 










Em 1960 a Cemig assumir a função de gerar energia e a usina foi então desativada.

No local ainda podemos avista a capelinha no alto da serra. Ela reina magnífica em sua simplicidade no meio da montanha. Sem duvida é o templo religioso visível em praticamente boa parte da redondeza do parque. 




 

Queríamos seguir o nosso passeio pela trilha, mas não conseguimos identificar muito bem onde continuava o caminho. Ficamos com medo de perdemos, Então optamos por retornar. Na volta vimos à torre da igreja neogótica e ao longe a capelinha. 



Voltamos até a bifurcação e fomos para o outro lado direito. Novamente a trilha se dividiu e tomamos o caminho em direção à ponte do Bode. 


Passamos por está ponte. O nome dessas é envolta em mistério. Já que a lenda conta que, ali foi o local onde um estudante foi raptado pelo demônio disfarçado de bode. Depois de atravessamos, pegamos a trilha que voltava à estrada e andamos de volta ao santuário.
 





No centro de informação, há uma divisória de vidro com vários decalques de patas pregados. Nela descobrimos que a pegada encontrada no caminho do tanque grande era realmente do lobo Guará .







Nenhum comentário:

Postar um comentário